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Junior Dalberto, autor e diretor potiguar premiado internacionalmente, lança livro em Natal

O Apartamento 702 entrevistou Junior Dalberto, autor e diretor potiguar premiado internacionalmente. Dentre os feitos de destaque no teatro e na literatura desse medalhão da cultura potiguar, estão “Borderline”, “Pipa Voada sobre Brancas Dunas”, “A Barca de Caronte” e “Titina e a Fada dos Sonhos”.
Na próxima terça-feira (dia 5) Junior lança sua nova obra – “Blattodea” – no Temis Bar Balcão Club, na sede do América F. C. em Tirol, às 18:30.
Apartamento 702: Junior, de que forma a juventude transloucada dos anos 80 influenciou seu processo como artista?
Junior Dalberto: A minha dramaturgia foi praticamente pavimentada com a cultura dos anos 80 e através dela construi a minha perspectiva de vida. A minha obra “Borderline”, por exemplo, é uma tentativa de retratar a dramaturgia transgressora dessa época e trazê-la para os dias de hoje.
Vivi a década de 80 no Rio de Janeiro vendo surgir Cazuza, Chorus Line, Baixo Leblon, Rock In Rio, Asdrubal trouxe o trombone, A CAL e toda a efervescência libertária dos movimentos artísticos que ocorriam a todo momento e em todo lugar. Considero esse período como um laboratório de desbunde cultural.
Apartamento 702: Você é um artista que definitivamente não se aquieta num tradicionalismo literário ou teatral, mesmo com tantos anos de estrada. Quais são as ferramentas que você usa pra manter suas obras sempre com “o cheiro do novo”?
Junior Dalberto: A busca é a mola-mestre que me impulsiona a seguir adiante. Buscar, procurar, pesquisar e investigar são verbos que conjugo diariamente na minha trajetória, o “novo” é apenas uma consequência desse processo. Tenho uma excelente relação com minha curiosidade e procuro estar em todos os lugares onde a arte se manifesta, independente do segmento. Gosto de experimentos, estou sempre aberto ao ineditismo, adoro o “cheiro do novo”, ele me faz sentir vivo e pulsante.
Apartamento 702: Em todos os seus livros é perceptível uma pesquisa bem feita e uma ambientação sempre detalhada dos lugares onde se passam o enredo, sem jamais haver um excesso de parágrafos descritivos. Um exemplo disso a gente encontra em “Reféns nos Andes”, “A Barca de Caronte” e “Borderline”. Conhecer pessoalmente os lugares ou embarcar na vida dos povos retratados faz parte da sua pesquisa?
Junior Dalberto: Eu costumo escrever e descrever ambientes familiares, ares vividos por mim mesmo em situações reais. Quando viajo, por exemplo, costumo mergulhar profundamente nas culturas locais e tento a todo custo transportar meus leitores para dentro das minhas obras. Uma das modalidades que mais aprecio é de mesclar lugares reais com personagens fictícios.
Apartamento 702: Agora as dores, alegrias, paixões, loucuras ou lucidez das personagens se são reais ou imaginárias?
Junior Dalberto: Prefiro que o leitor decida.
Apartamento 702: Como foi o processo de concepção de Blattodea?
Junior Dalberto: Blattodea é o nome cientifico para o inseto barata. Em 2015 fui procurado por um ator do Rio de Janeiro chamado Felipe Cunha que tinha assistido a montagem carioca do meu texto “Borderline” com Bruce Brandão e que havia gostado bastante. Ele procurava algo novo, diferente do convencional; queria um monólogo com uma pegada forte e me pediu um texto inédito em que onde o personagem principal passasse por um grande trauma e superação. Aceitei o desafio e escrevi um conto de um paciente acometido por ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), na estória o personagem chega a um estágio da doença que seu corpo está paralisado em um leito de hospital, porém a sua mente está totalmente lúcida e para continuar sobrevivendo ele passa a divagar na sua paixão pela literatura, viajando mentalmente em obras que ele leu no passado, especialmente a barata Gregorios da obra “A Metamorfose” do escritor Kafka. Paralelamente permeiam estórias dos familiares, dos médicos e enfermeiros que o acompanham.
Segundo o escritor João Andrade que fez o prefácio sobre Blattodea: “Transmutado em uma barata, uma barata albina. Digo, porém, não ser esse o principal fator para que o conto Blattodea deva ser lido. O que torna a leitura desse conto necessária é que o mais asqueroso não é essencialmente o inseto, mas o quanto podemos ser pequenos, mesquinhos, medíocres. E nessa escala de condição de vileza também encontrar nobreza, esperança, dignidade”.
Blattodea é meu oitavo livro e uma obra com seis contos inéditos.
Apartamento 702: Como a mitologia influencia na sua criação literária?
Junior Dalberto: A mitologia me atrai pelo poder e fascínio que os seres mitológicos exercem sobre a história, a dramaturgia, a literatura e as artes em geral. As lendas influenciam absurdamente a poesia, dramaturgia e a estética, e tem o poder de transformar mentiras em verdades, influenciando vidas desde o inicio dos séculos até os dias atuais, a mitologia é para mim uma interessante fonte de inspiração.
Apartamento 702: Como diretor de teatro, você prefere dirigir textos seus ou também se aventura em textos de outros autores?
Junior Dalberto: Prefiro os meus textos, mas quando sou apresentado a uma dramaturgia que traz uma proposta interessante e que me instiga, não penso duas vezes, me jogo por inteiro, pois sou movido a desafios.
Apartamento 702: INKUBUS, espetáculo recém estreado no palco do Teatro de Cultura Popular, qual foi o seu maior desafio como artista?
Junior Dalberto: Foi conseguir enxergar na dramaturgia o que se passava na cabeça de uma jovem e talentosa autora e buscar ser fiel a sua proposta. Não é um trabalho fácil, foi necessário me desconstruir como artista e me reconstruir junto a obra. Foi preciso sofrer intensamente na concepção de algumas cenas, principalmente por saber que a problemática é real e precisava passar a verdade necessária para que público se identificasse com o tema. Meu desafio era gerar a dor exigida pelo texto. Nos ensaios fui à exaustão quase que diariamente, me banhava de angústias e aflições provenientes das cenas de abusos sexuais e violência. Ao final dos ensaios e com a peça concluída me senti aliviado e satisfeito por ter atingido o objetivo do projeto, que era utilizar a arte para transformar atos truculentos e inaceitáveis de mentes doentias em uma obra linda, poética e transformadora. Todos saem da peça refletindo sobre a mensagem contundente a que ela se propõe. O meu sentimento é de missão cumprida.
Apartamento 702: O que espera de feedback desse livro novo?
Junior Dalberto: Ser lido e que não o usem apenas como objeto de decoração, pois pude felizmente contar com o talento do meu amigo publicitário Robson Medeiros, que transformou a capa numa verdadeira obra de arte. Espero que o conteúdo corresponda a altura as impressões causadas pelo primeiro contato visual do livro.

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